terça-feira, 11 de setembro de 2012

voto sujo

Tenho pressa e pouco espaço. Voto sujo é o voto utilitário, interesseiro, comprado (ou vendido, seja o que for). O voto que elege um ficha suja por mais que a mídia aponte seus erros, os processos, os desmandos, a cara-de-pau.

Esse é o voto sujo, assim denominado para entrar no jargão político atual de “fichas limpas”, “fichas sujas” e assim por diante.

O voto sujo é dado por aquele que recebe cesta-básica, que recebe gasolina para fixar um adesivo de propaganda no próprio carro, que ganha uma camiseta ou é convidado para um churrasco.

Voto sujo é do cara que tem um emprego, ou uma filha ou filho empregado no serviço público, mesmo que seja aquele empreguinho de ascensorista de uma prefeitura de interior, um motorista de carro oficial numa remota agência fazendária.

A cada ano, um chefete, ou cabo eleitoral, liga e dá o comando: o chefe está em campanha. O número é esse. Estou mandando material para distribuir aí na região. E, a seguir, o aviso que deflagra o voto sujo:

- Se ele não ganhar, pode limpar a gaveta que o emprego já era...

Tem comando mais poderoso do que esse para colocar o voto sujo na rua em busca de outros votos sujos?

Esse voto sujo não tem preocupação com a população, com o mandato do seu chefe, com a gastança que ele vai fazer nem com as transações em que vai se envolver, vendendo a própria alma e as almas que o seguem incondicionalmente para preservar o empreguinho.

Quem paga a conta, o seu salário, o vencimento do deputado, as mordomias, o aviãozinho, os outros empregos espalhados pelo Estado? Isso não interessa ao voto sujo. Ele só vê o próprio umbigo. Sua fonte pagadora é o deputado e ele precisa ser eleito, senão...

Voto sujo. Que suja a democracia. Que apodrece o tecido social. Que perverte toda a sociedade, que contamina as instituições, que prostitui o processo eleitoral. Contra esse voto sujo, do bolsa-família, do bolsa-escola, do bolsa-isso ou aquilo, não adianta o meu voto limpo e consciente aqui na cidade.

Nos grotões, o voto sujo elege Pacdilma, elege Lula e quem mais ele mandar. Lembre-se do telefonema fatal: se o chefe não for eleito, acaba o bolsa-família... Você está sem emprego. Seu filho será demitido na prefeitura tal.

Nos últimos anos, o voto sujo é maioria. Não importa o candidato, o Brasil foi aparelhado para eleger os mais corruptos. Sarney, riquíssimo, é ironicamente eleito pelos votos sujos do Amapá e do Maranhão, não por acaso os Estados mais miseráveis do país.

O voto sujo elegerá Tiririca, João Paulo, Genoíno e um sem-número de aloprados. Meu voto limpo só dará legitimidade ao processo, já que não posso deixar de participar. Não tenho emprego, não tenho filhos empregados, escolho meus candidatos por suas propostas e pelo passado supostamente idôneo. Mas sou gota no oceano. Serei vencido pelos votos sujos.

Pelo menos, a partir de agora, nada mudará, mas teremos no vocabulário político-eleitoral mais um factóide: o voto sujo.

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