segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Bancou o espertalhão

Bancou o espertalhão
Por Oneir Guedes - 26/07/2013, 13h56
Sobre a lei de Gérson e um curioso caso ocorrido em Sapucaia

Você provavelmente já ouviu falar na famigerada "lei de Gérson". A expressão  surgiu na década de 70, quando a recém-lançada marca de cigarros Vila Rica decidiu empreender uma grande campanha publicitária. Fumar era moda, era chique, por isso os comerciais de cigarro sempre chamavam muita atenção. O garoto propaganda escolhido foi o meio-campista Gérson, uma das maiores estrelas na conquista do tricampeonato mundial alguns anos antes. Na peça publicitária, após falar sobre as vantagens do produto, o boleiro deu um sorrisinho malandro e, com um carregado sotaque carioca, soltou as infelizes frases da propaganda: "Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!". Dessa forma, ao destacar o perfil nacional de querer se dar bem em todas as situações, Gérson sintetizou o lado mais pejorativo do famoso jeitinho brasileiro. Depois de algum tempo, o jogador declarou ter ficado arrependido ao ver sua imagem associada ao anúncio e tentou se desvencilhar da fama de patrocinador dos espertalhões, patrono dos corruptos e propagandista dos canalhas. Mas não teve jeito, seu nome acabou batizando a “lei” mais infeliz do país e ficou no imaginário popular.
Embora existam brasileiros que trabalham arduamente para mudar esse infeliz estereótipo nacional,  não há como negar que muitas pequenas atitudes cotidianas em nosso país ainda refletem perfeitamente aquela “lei” elaborada décadas atrás. É lamentável o fato de que muitas pessoas não hesitam em atropelar a moralidade para se dar bem em determinadas situações, mesmo que isso contrarie a legislação nacional. Há sempre alguém disposto a pagar ao guarda para se livrar de uma multa, cortar pelo acostamento para fugir do tráfego congestionado, estacionar em local proibido, levar lembrancinhas do hotel, comprar produtos piratas, fazer um  “gato net” ou um rateio ilegal de TV a cabo. Exemplos não faltam, como no caso do médico que deveria trabalhar seis horas diariamente no hospital público, mas, se aproveitando da falta de fiscalização efetiva, fica menos de meia hora por dia em seu serviço. O mesmo se pode dizer do professor que inventa mil desculpas para não ir dar aula ou do político que usa a máquina pública em benefício de seus apadrinhados.

A lei de Gérson ganha ainda mais força em nosso país em função da impunidade. Certo de que nenhum mal lhe acontecerá, o “gersoniano” não hesita em usar o “jeitinho” para se dar bem, mesmo que para isso seja necessário cometer pequenas ou grandes ilegalidades. Mas, as vezes, nos deparamos com situações nas quais o malandro tem que enfrentar a consequência de seu comportamento. São esses episódios pontuais que deveriam servir de de exemplo para aqueles que levam a lei de Gérson como estilo de vida. Um desses casos aconteceu na cidade de Sapucaia há cerca de dois anos atrás e foi noticiado pelo Entre-Rios Jornal em uma reportagem com o título “Diversão em clube se transforma em prisão em flagrante”.
Nesse episódio, um jovem estava acompanhado de dois amigos e todos se divertiam em um conhecido balnéario. Um funcionário do local encontrou uma máquina fotográfica perdida e decidiu perguntar aos presentes se algum deles era o dono do objeto, mas ninguém se manifestou. Aquele rapaz viu ali uma oportunidade de se dar bem e, malandramente, anunciou-se como dono da coisa achada, a pegou para si e foi rapidamente pra casa antes que sua farsa fosse revelada. Pouco tempo depois, o verdadeiro dono do objeto apareceu e o funcionário do clube ficou chocado ao ver que havia sido passado para trás. Mas nem tudo estava perdido. Nas câmeras de segurança do lugar foi possível ver o número da placa do carro usado pelos jovens para ir até lá. Através da placa, a polícia identificou o nome e endereço do proprietário do veículo. E, veja só, o proprietário era justamente aquele que havia se apropriado da máquina fotográfica. Assim, como em um legítimo espisodio do CSI, o caso foi desvendado e o rapaz foi detido pela prática do crime de estelionato.
Trata-se de um caso interessante, que nos deixa uma lição. Ele mostra que lei de Gérson não está com nada e que não vale a pena sair por aí querendo bancar o espertalhão.
#Esse artigo foi escrito ao som da música “Aluga-se” do Titãs

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