quinta-feira, 4 de outubro de 2012

CARTA AO ELEITOR DESCRENTE

CARTA AO ELEITOR DESCRENTE
“Pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre ideias, pessoas mesquinhas falam sobre pessoas”
Platão
Na década de 20 do século passado surgiu uma corrente política que, no entanto, negava a política. Dizia que a política era a fonte de todos os males e da corrupção. Afirmava ainda que os políticos só pensavam em roubar, enquanto o povo padecia com o desemprego, a violência e a miséria.


E o povo, que sofria realmente com a miséria, a violência e o desemprego, ouvia com atenção essa nova corrente que se apresentava como “anti-política”. Inclusive prometia, ao chegar ao poder, abolir a política e instaurar o reino da honestidade, onde apenas o interesse público prevalecesse, para o bem comum.

Primeiro na Itália, depois na Alemanha, os líderes deste movimento, chamado fascismo, ganharam o poder, com Mussolini e Hitler proclamando abertamente que, em seus países, a política tinha sido “derrotada pela honra”.

O que se via nestes países, no entanto, no lugar da “política”, eram duas ditaduras sanguinárias, corruptas, racistas, que ao final conduziram o mundo para uma guerra que ceifou quarenta milhões de vidas. 

Hoje, mais de 90 anos depois do surgimento do fascismo, em pleno século XXI, voltamos a assistir no Brasil um fenômeno correlato.

Incentivada pela mídia hegemônica (grandes jornais e TVs a serviço do capital) firma-se entre o povo a noção de que a política é uma coisa abjeta e que deve ser evitada. Para o senso comum, existem bons e maus médicos, bons e maus advogados, mas não existem bons e maus políticos: são todos da mesma espécie.

Este raciocínio raso serve aos interesses dos poderosos, pois como dizia Bertold Brecht, “que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”.

Quem escreve este artigo é um político. E mais, político parlamentar, vereador do Rio de Janeiro e que busca a reeleição.

Para mim política é, como dizia Proudhon, “a ciência da liberdade”, pois só através da ação coletiva, livre e consciente, podemos transformar a realidade.  
Não basta ao parlamentar ser honesto (o que, aliás, é uma obrigação básica) mas deve ser também produtivo no exercício do seu mandato. Se depois de anos de mandato o candidato só tem para apresentar a alegação de que foi honesto, fica claro que ele furtou o eleitor de outra forma, recebendo para ser vereador (ou deputado, ou senador) sem ter trabalhado para isso.

Na verdade, o político deve prestar contas de sua prática e dos ideais que a orientam, até para que o cidadão julgue se a prática é coerente com os ideais.

Se você, por cansaço ou descrença, abre mão de fazer esse questionamento, deixa espaço para eleger aqueles que distribuem dentaduras, remédios ou abusam do poder econômico. 

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