terça-feira, 22 de julho de 2014

O Precedente Rubro-Negro

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por Sidney Garambone

         Vamos imaginar a troca de mensagens hoje de manhã entre os agressores do jogador André Santos. Saindo do Beira-Rio, depois de uma atuação pífia, o trabalhador, sim sim, ou alguém acha que atleta profissional não é trabalhador? Pois o trabalhador foi chutado e socado por um punhado de pessoas que, apesar da crise terrível na Ucrânia e do conflito sanguinário em Gaza, acham o fim do mundo o Flamengo estar na lanterna e ser goleado por um rival de peso.
         Pois vamos então imaginar as mensagens:
         - Aí, Mané, viu lá?
         - Mandaram o otário embora!
         - Arregaram bonito para nós!
         - Isso aqui é Flamengo, cambada!
         - Esses cartolas tem que aprender quem é que manda neste clube, rapá.
         - Aprenderam na moral!
         - Aê, e o socão que eu acertei nas costas do vagabundo...?
         - Rs rs rs.... mandou bemzão....
         - Aviso foi dado! Acabou o amor!
         O Flamengo. O mais querido. O Flamengo popular. De tantas vitórias e shows, o Flamengo que comove quando viaja, o Flamengo do torcedor mais pobre, que só tem uma camisa velha e resistente da Era Zico. O Flamengo das músicas e poesias, da tristeza e da alegria. Muito mais alegrias. Flamengo do samba, da classe A, B, C, D, E...
         Este Flamengo acaba de dar um tiro no próprio pé. Um não. Dois. Um no próprio pé e outro nos nossos pés. E está doendo muito. Numa ensolarada manhã carioca, onde na CBF Dunga se apresentava como novo treinador da Seleção, o Flamengo criou o maléfico e tenebroso “Precedente Rubro-Negro”.
         Se uma criança rouba um apagador no colégio e os pais não falam nada, criou-se o Precedente Rubro-Negro. Se o adolescente queima um mendigo e ganha advogado rico para o defender, estamos também diante do Precedente Rubro-Negro. Se um adulto usa meia-entrada para entrar no cinema e é elogiado pelos amigos, mais um Precedente Rubro-Negro.
         Haveria outras dezenas de formas da atual diretoria, que foi aplaudida por várias demonstrações de seriedade e profissionalismo, mostrar pulso firme e vontade de mudanças. Esta foi a pior delas. Nociva não apenas para o Flamengo.
         E, pelo jeito, não dá para consertar. Melhor até rasgar a nota que o clube divulgou condenando a “atitude criminosa” dos agressores. Palavras ao vento.

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